segunda-feira, março 04, 2013

30 anos da Libertadores de 1983 - Grêmio 1x1 Flamengo



Há 30 anos o Grêmio começa a sua jornada na Libertadores de 1983. Logo de cara o tricolor recebeu o Flamengo no Olímpico. Um jogo importantíssimo, uma vez que o regulamento previa que apenas 1 das 4 equipes de cada grupo avançaria para a segunda fase.

Valdir Espinosa ainda estava buscando a formação ideal para o time. O treinador insistia na ideia de usar Tonho como um "ponta-esquerda falso", fechando como quarto homem de meio campo. Além disso, especificamente para o confronto contra o Rubro-negro, foi escalado um meio-campo mais defensivo, com Bonamigo no lugar do recém-contratado Osvaldo. Espinosa assim explicou a sua escalação:

"Só tirei o Osvaldo desta partida porque precisava de mais um marcador no meio-campo para conter Zico e Adílio." ; "Olha, o Osvaldo foi excepcional. Quando eu falei a ele sobre a nossa intenção ele disse que era para o bem do grupo e até ficava contente em sair. E o Bonamigo cumpriu à risca as determinações. A vantagem dele nesse jogo era poder marcar o adversário e também atacar. Fez isso muito bem e contribuiu para a boa atuação"

A tensão para o jogo era grande. Baltazar e Tita faziam o primeiro confronto contra os seus antigos clubes. Para piorar clima, a diretoria do Flamengo tentou vetar a escalação do juiz Arnaldo Cesar Coelho. Depois do jogo, os dirigentes do Grêmio reclamaram que a pressão flamenguista surtiu efeito na arbitragem.

Mas apesar das marcações polêmicas, não foi Arnaldo o personagem da partida, e sim Hugo de Leon. O uruguaio foi tentar sair jogando e perdeu uma bola para Zico, o que acabou gerando o gol do Flamengo, marcado logo aos 16 minutos por Baltazar. Buscando se redimir, o capitão gremista passou o resto do jogo empurrando o time para o ataque. E aos 35 minutos do segundo tempo foi ele que marcou o gol do peleado empate gremista. Conforme o próprio conta: 

"Tive muito azar naquela jogada em que perdi a bola para o Zico. Mas o esforço coletivo de toda  a equipe acabou permitindo que o Grêmio empatasse um jogo extremamente difícil. Só o chute foi meu no gol do empate, o trabalho e o esforço foi de todos os companheiros que lutaram muito para evitar a derrota"

João Saldanha, então colunista do Jornal do Brasil, entendeu que "o resultado fez justiça aos dois times". Para Antônio Goulart, do Correio do Povo, o 1 a 1, "acabou sendo justo". Tudo muito parecido com o "Se fez justiça", que Ruy Carlos Ostermann colocou no título da sua coluna na Zero Hora. Na Placar, Divino Fonseca afirmou que "O Grêmio atacou mais, mas o Fla se defendeu bem".  Abaixo seguem mais algumas matérias sobre essa partida:




"Quem não foi ao Olímpico perdeu um dos melhores jogos dos últimos tempos. O empate de 1 a 1 entre Grêmio e Flamengo na primeira partida pela Libertadores, premiou o público presente porque a partida foi vibrante. Baltazar fez um belíssimo gol para o Flamengo e Hugo de León respondeu com outro golaço. O Grêmio foi combativo, ofensivo, teve duas bolas no poste e merecia vencer porque taticamente foi perfeito. Mas com um estilo calmo e paciente o Flamengo suportou a pressão.

[...]

O Grêmio jogou melhor, merecia a vitória mas além de Zico, o Flamengo apresentou outro grande jogador: Raul." (Zero Hora - 05 de março de 1983)




"FÁBIO KOFF CHAMOU ARNALDO DE LADRÃO
Dirigentes gremistas disseram que ele foi condicionado

"O Arnaldo César Coelho é um ladrão. Ele não marcou um pênalti". Descontrolado, o presidente do Grêmio, Fábio Koff entrou rapidamente no vestiário, após o empate com o Flamengo, acusando o árbitro da FIFA que apitou a partida decisiva do Mundial da Espanha. Mesmo requisitado pelos repórteres não quis dar entrevista na hora, preferiu conversar com seus companheiros que também lamentavam a atuação do árbitro carioca.
Mais calmo, mostrando tranquilidade, mas também reclamando de Arnaldo Cesar Coelho, quem falou sobre arbitragem foi o vice presidente de futebol, Alberto Galia:
- Eu não gosto de comentar a arbitragem, mas desta vez foi demais. Todo o estádio viu os erros deste juiz. Eu imaginava que ele na condição de árbitro da FIFA, não poderia ser atingido pela pressão. Mas foi. Foi condicionado pelas palavras do presidente do Flamengo. E isto é lamentável. Milhões de pessoas que assistiram aos lances do jogo puderam comprovar os erros deste árbitro. O Grêmio foi prejudicado e perdemos um ponto em nossa casa. Agora, vamos tentar recuperá-lo fora do Olímpico. Ele deixou de marcar um pênalti a nosso favor.
SORRISOS
No vestiário do Flamengo, ao saber da atitude e das palavras de Fábio Koff, o presidente do Flamengo, Antônio Dunshee de Abranches não falou nada. Apenas limitou-se a sorrir. Entre os jogadores ninguém criticou a arbitragem de Arnaldo César Coelho, um árbitro que vinha sendo vetado pelo Flamengo." (Zero Hora - 05 de março de 1983)

 
"Atuação do juiz

Nota 8

A única restrição que se pode fazer ao trabalho de Arnaldo César Coelho refere-se ao lance surgido aos 28 minutos do segundo tempo, quando Marinho derrubou Bonamigo dentro da área. Foi um lance difícil, do qual ele não estava muito próximo e em que o auxiliar nada marcou. Em todos os outros lances reclamados pelos torcedores (pênaltis em Tonho e Tita, no primeiro tempo) Arnaldo Agiu corretamente sem deixar dúvidas. Uma boa atuação.  (Zero Hora - 05 de março de 1983)



"Grêmio e Flamego empatarem em 1x1 na abertura do grupo 2 da Libertadores de América, em jogo empolgante, ontem a noite no Olímpico, e cujo resultado acabou sendo camarada para o time carioca, considerando o predomínio gaúcho em campo. Como se não bastasse, o Grêmio teve duas bolas no poste e lances duvidosos na área flamenguista, totalmente ignorados por Arnaldo César Coelho"

[...] 

Aos 36 minutos, Tita entrou driblando na defesa carioca, foi derrubado, mas Arnaldo considerou lance legal." (Correio do povo - 05 de março de 1983)




"[...]

O intervalo foi bom para o Flamengo. O time voltou mais solto, aguerrido. Com dois minutos já poderia ter feito dois gols. Zico chutou uma bola no travessão, cobrando falta. Baltasar quase fez outro gol. O jogo ficou muito corrido. O Grêmio, incentivado pela torcida, praticamente não perdia uma dividida. E, na base da garra, conseguiu equilibrar de novo a partida. Renato, que entrou no lugar de Tarciso, chutou na trave. Bonamigo perdeu um gol. Raul, um dos melhores em campo, fez defesas incríveis. Aos 28 minutos, a maior falha do tolerante juiz Arnaldo César Coelho: Bonamigo foi derrubado na área do Flamengo, em pênalti claro que ele não marcou. Apesar de Lambari, que entrou no lugar de Tonho, o Grêmio conseguia manter o domínio, até que De Leon empatou." (Jornal do Brasil - 05 de março de 1983)




Quinta-feira, três de março de 1983:
Os preparativos:


Uma boa estréia na competição era de vital importância para as pretensões gremistas de encaminhar a classificação no Grupo 2, que contava ainda com as participações dos bolivianos do Blooming e do Bolívar. Ao contrário do que ocorre hoje em dia, apenas o campeão do grupo é que garantia classificação.

O jogo aumentava de importância já que os dois próximos seriam realizados fora de casa, na Bolívia.
Desde cedo, as duas diretorias trabalhavam forte nos bastidores.

O presidente do Flamengo, Antônio Augusto Abranches, passou a criticar publicamente a escalação do árbitro Arnaldo César Coelho para comandar a partida no Olímpico. Do outro lado, Fábio Koff definiu a manobra do dirigente carioca como “uma clara tentativa de pressionar a arbitragem”. Nenhuma novidade, já que o mesmo cartola havia utilizado o mesmo artifício quando da decisão do Campeonato Brasileiro do ano anterior.
Dentro de campo, mistério de ambas as partes: pelo Grêmio, o técnico Espinosa treinou uma equipe, mas surpreendeu na hora do jogo. A derrota no final de semana para o
Atlético Paranaense em pleno estádio Olímpico, e com a equipe titular, deixou uma pulga atrás da orelha do comandante gremista fazendo com que o time fosse modificado em cima da hora. Pelo Flamengo, o treinador Paulo César Carpeggiani aguardava um parecer do Departamento Médico sobre a situação do lateral-esquerdo Júnior, que sentia dores.
Apesar do resultado negativo de domingo pela Taça de Ouro contra os paranaenses e a marcação do jogo para uma sexta-feira à noite, a mobilização da torcida era grande. Principalmente pela possibilidade de uma revanche contra os rubro-negros.


Era certeza de casa cheia. (Gremio.net)
 


*Sexta-feira, quatro de março de 1983.
A estréia em um jogo emocionante:

Mais de 43 mil pagantes lotaram o estádio Olímpico para a estréia do Tricolor na Copa Libertadores de 1983.
Além de ser a abertura do Grupo 2, e contra um adversário que estava entalado na garganta, a partida estava recheada de atrativos para o torcedor. Pela primeira vez, Tita atuava contra o time que o revelou para o futebol. Do outro lado, o artilheiro Baltazar, autor do gol do título Brasileir
o de 1981, também atuava contra seu ex-clube.
A TV Gaúcha transmitiu ao vivo para todo o País na narração de Galvão Bueno.
A vitória não veio, mas quem esteve presente viu um dos melhores jogos dos últimos tempos.



Empurrado pela torcida, o Grêmio partiu pra cima do Flamengo em busca da vitória.
Valdir Espinosa surpreendeu com uma modificação tática. Colocou Bonamigo no lugar de Osvaldo para aumentar o poder de marcação principalmente sobre Zico e Adílio.
O Flamengo acabou ficando sem Júnior, lesionado. Ademar entrou na lateral-esquerda.

Tudo transcorria dentro da normalidade e o Grêmio dominava os primeiros 15 minutos. Aos 16, o zagueiro Hugo de León tentou sair jogando pela direita, ao lado da área. Zico deu o combate e conseguiu roubar a bola do capitão gremista fazendo o cruzamento. O artilheiro Baltazar, ex-Grêmio, dominou com o pé direito, deu um chapéu no marcador que era Leandro e, também de pé direito, com um leve toque, mandou a bola no ângulo esquerdo da meta do goleiro Remi que nem se mexeu.
Foi um golaço.
Inconformado com a falha no lance, De León abandonou qualquer obediência tática e se atirou ao ataque para se redimir.
Aos 24, Tita tabelou com Bonamigo e chutou no poste.
O Tricolor ainda teve três boas oportunidades, mas o goleiro Raul estava em noite inspirada.
Faltando três minutos para o final da primeira etapa, Remi saiu errado da meta e Adílio concluiu de cabeça. O zagueiro Leandro salvou sobre a linha evitando o segun
do gol carioca.
O segundo tempo começou com o Flamengo melhor. Com a vantagem no marcador, Zico comandou o toque de bola no meio campo.

Aos sete minutos, Espinosa colocou o ponteiro Lambari no lugar de Tonho querendo aproveitar a velocidade do atacante. Porém, o time só melhorou mesmo quando, aos 17 minutos, Renato entrou no lugar de Tarciso. Recém promovido das categorias de base, o jovem ponteiro vi
ndo de Bento Gonçalves queria mostrar serviço.
Em sua primeira jogada, acertou o poste do goleiro Raul.
A pressão ficou insustentável.
Aos 24, Bonamigo foi derrubado na área, mas Arnaldo César Coelho nada marcou para desespero do vice-presidente de Futebol, Alberto Galia.
O Flamengo recuou.
Edson entrou no lugar de Robertinho
para ajudar na marcação e Lico ficou isolado. Baltazar passou a ser o único atacante mais avançado.
Aos 35 minutos, o esforço comovente de Hugo de León para se recuperar do erro da primeira etapa foi premiado. Após escanteio da esquerda, a zaga do Flamengo afastou de cabeça para a entrada da área, o capitão gremista pegou de primeira, de pé esquerdo, no ângulo esquerdo de Raul. A bola ainda bateu no poste antes de entrar.
Festa da torcida gremista!
Festa de Hugo de León!

O resultado final não foi aquele esperado, mas acabou fazendo justiça à boa atuação e à qualidade das duas equipes.
O presidente Fábio Koff ficou indignado com a atuação do árbitro e chamou Arnaldo César Coelho de “ladrão”. O Vice de Futebol, Alberto Galia, também mostrou seu descontentamento.
A única alternativa era buscar duas vitórias na Bolívia, contra Blooming e Bolívar, algo inédito até então na história da Libertadores. (Gremio.net)



"Entretanto, para passar por esta primeira fase da Libertadores, o time teve mais do que a orientação do zagueiro uruguaio. Precisou também de um gol seu no empate por 1x1 com o Flamengo, em Porto Alegre, em março. No gol adversário, a falha fora sua, perdendo a bola para Zico, que deu o passe para Baltazar. Aí ele virou fera outra vez. Foi para o ataque como um guerreiro e lembrando seus tempos de meia-direita no juvenil do Nacional, acertou um belo chute no ângulo de Raul" (Placar)


"BAITA JOGO
O Grêmio mereceu ganhar, saoi barato pro Flamengo. Raul foi o melhor em campo. Não julguemos o Espinosa pelo resultado, mas pela bela atuação do Grêmio, especialmente no primeiro tempo. O erro do treinador do Grêmio foi, ao incluir Renato acertadamente, ter retirado Tarciso, em vez de passá-lo pro meio, no lugar de César. Baltazar no Flamengo nao é culpa do Espinosa. Resultado conveniente pro Mengo, que teve o mérito de sempre saber o que queria e como deveria fazer prá chegar lá" (Lauro Quadro - Folha da Tarde - 5 de março de 1983)





"De León emocionou a todos pela maneira obstinada com que perseguiu a própria redenção - ele perdeu infatilmente a bola para Zico na jogada anterior ao gol de Baltazer. Transformou-se num peladeiro, compreendido e respeitado peladeiro, mas conseguiu marcar o gol do empate" (Divino Fonseca - Revista Placar - 11 de março de 1983)



Grêmio 1x1 Flamengo


GREMIO: Remi; Paulo Roberto, Leandro, De León e Casemiro; China, Bonamigo e Tita; Tarciso (Renato), César e Tonho (Lambari)
Técnico: Valdir Espinosa

FLAMENGO: Raul; Leandro, Figueredo, Marinho e Ademar; Andrade, Adílio e Zico; Robertinho (Édson), Baltazar e Lico;
Técnico: Paulo Cesar Carpegiani

Fase de Grupos - 1ª rodada - Libertadores 1983

Data: 4 de março de 1983, sexta-feira, 21h15min
Local: Estádio Olímpico, em (Porto Alegre-RS
Público:43.125 pagantes
Renda: CR$ 33.610.000,00

Juiz: Arnaldo Cezar Coelho

Auxiliares:  Romualdo Arpi Filho e José de Assis Aragão
Gols:Baltazar, aos 16 do 1ºT; De León  aos 35 do 2ºT

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